terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Grinalda para o próximo terramoto de Lisboa

 Ao Urbano Tavares Rodrigues 

s

1 -

Vai deslizando a cidade

(cai a tarde)

entre duas noites gémeas,

tão eternas! Tão efémeras!

- como um corpo fatigado

(cai a tarde),

um corpo por entre dois

negros lençóis ...

Noite do céu, aconchega

bem o rosto da cidade!

Noite do céu, que tristeza

nos invade?

Noite do céu, nem na dobra

de luar do teu lençol

(ah! Que saudades do Sol!)

tamanha angústia soçobra. 

Mas, insones, esquecemos

a noite que espezinhamos,

remadores olhando os ramos

das altas árvores da margem,

só atentos à paisagem,

sem ver o lodo nos remos

nem os pegos

- olhos negros

das águas que espedaçamos! 

No desprezo a que o votamos,

range o lençol esquecido.

Ai de nós, que mal cuidamos

do perigo!

Noite funda das entranhas

intranquilas!

Noite funda das entranhas,

que venenos tu destilas!

E na tetas das colinas,

para nós, que leite ordenhas? 

Eis que num primeiro andar,

quase a boiar sobre o Tejo,

a um papagaio empalhado

e a um milhafre pintado

num azulejo

lhes tremem, súbito as asas;

e antes que tremam as casas

buscam, aflitos, o ar. 

Vem, ó Anjo tutelar

da luminosa, leviana,

mística, fútil, profana

cidade dos terramotos,

- vem, ó Anjo Jugular,

o terror dos próprios mortos! 

2 - 

Salta o esgoto,

cai o muro,

morre o porco

no monturo;

no porto

o sussuro

dos navios

enche o escuro;

ardem corpos,

ardem blocos,

cresce o rio;

sobre os puros

e os impuros,

tomba o frio

prematuro

do futuro;

grasna o corvo

que assistiu

a um outro

terramoto.

Terramoto,

te esconjuro! 

Só um coro

dentre o sismo

se ergue ao Todo

poderoso.

Só um coro,

dentre o cismo;

só um coro;

são os cisnes,

são os cisnes ...

Hino? Prece?

Nem o ‘strondo

destes troncos

o emudece.

Grito vão,

sem remorso

nem perdão,

sobre o dorso

deste mundo

inseguro ...

Terramoto!

Terramoto,

te esconjuro! 

3 – 

Impropérios e morte exclama o vento,

o vindo das entranhas que arrebata

dos prédios a raíz fasciculada

e distribui aos ventos o cimento

em pólen transformado. Oh! Que sangrento

o vinho que se espalha e sobrenada

à flor da confusão alucinada

destes corpos em cacho! – Turbulento, 

avança pelas ruas já o rio ...

Sobre um resto de fé – magro pedículo!

- o medo é um cogumelo fugidio ... 

Mas é tarde de mais! Gritam os ventos,

ante o súbito, sórdido, ridículo

coro dos excelentes sentimentos! 

Por entre as trevas, sobre os escombros,

vamo-nos vendo, e encontrando

a própria voz. Que reencontros!

Que mãos silentes sobre os ombros!

Desse milhão e tal que fomos,

Quantos restamos? E até quando

a própria voz, sobre os escombros,

noutros iremos encontrando? 

Ah! Foi precisa esta agonia

para afinal apercebermos

que tudo quanto dividia

as nossas vozes poderia

harmonizar-se em litania

aos moribundos e aos enfermos ...:

- que só na última agonia

irmãos e unânimes seremos! 

.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

E por vezes

 E por vezes”

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos  E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites   não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

David Mourão-Ferreira

Natais David Mourao Ferreira

 

Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

domingo, 10 de dezembro de 2023

Só coincidência...

 No dia 7 de Novembro,  dia da ida da Procuradora-Geral a Belém,  só se discutiu António Costa, S.EXA o presidente da República dixit.

Neste nesmo dia foi aberto um processo no Ministério Público contra desconhecidos que focava o tema das gémeas, 4 dias antes tinha a TVI despoletado o caso.

...mas não foi tema em Belém. 🙃😏🤫

sábado, 9 de dezembro de 2023

Magistratura em reunião

 O Concelho Superior da Magistratura reuniu-se para discutir a operação influencer.

A CS sabe que houve discussão acalorada.

A Ata da reunião omite as opiniões  dos Magistrados que contestaram o processo. 


Tão  democráticos!

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

A magistratura de influência

Marcelo a influenciar, cumprindo as suas funções. 

🙃🙃🙃🙃

Marcelo recebeu um email do filho  dr Nuno Rebelo de Sousa a interceder pelo tratamento em Portugal de 2 gémeas brasileiras.  4 milhões de euros era o custo do tratamento. 

Não  se sabe ainda como, mas as gémeas recebem a cidadania portuguesa. 

Isto tem um nome em bom português:

 Cunha.

O SNS demorou a responder.  A secretária para os serviços sociais da presidência ligou para o Hospital Sta. Maria. 

Cunha

Para o Hospital o assunto  não era prioritário

O presidente enviou o processo para o gabinete do 1o Ministro.

Cunha

Tratamento efectuado e gémeas regressam a S. Paulo. 

Seguir-se-ão próximos capítulos...





sábado, 25 de novembro de 2023

Os abutres

 Face ao panorama fabricado pelo MP e aliados, lembro com muita saudade um brilhante Blogger de seu nome Besugo. 

É  um texto de 2011 e não parece:

"Em Portugal (dispenso-me de falar doutros países, há tipos com blogues noutros países e eles que escrevam sobre isto se quiserem), para os portugueses, o acto de linchar é uma espécie de refeição ao meio da manhã que se toma em grupo. Em cardume, em manada, em matilha. Não sei o substantivo colectivo que define uma resma de hienas, que seria o mais adequado para o que quero dizer, de maneira que vou inventar uma palavra para isso: putedo.

Ora o putedo, em se apanhando diante do alvo erecto, rosna baixo a olhar os passarinhos que esvoaçam. Em o alvo se abaixando para qualquer coisa (ou por qualquer coisa), rosna alto e começa a mirar as próprias fezes. Em apanhando o alvo um bocadinho de cócoras, para apanhar qualquer coisa que lhe caiu, começa a rodeá-lo e a guinchar risadas funâmbulas, com as supracitadas fezes já na boca. Metade do putedo agride já o alvo, com as gengivas fétidas onde desabundam dentes e progride a piorreia. Se o alvo cai, matam-no com a rapidez lenta dos vagares vorazes. E não o comem logo por ser carne fresca.

O putedo é cobarde e, como convém aos cobardes, abundante.

..."