quarta-feira, 28 de outubro de 2009

-Talvez não acredites mas os cavalos fazem sombra no mar

 

"(-Estou melhor)

não sinto febre mana, amanhã saímos as duas a fazermos sombra no mar como a Beatriz dizia dos cavalos, galopamos num sorriso que dá pena e numa certeza que dá mais pena ainda, não gosto de ninguém e contudo pronuncio o teu nome ...

... que livro este senhores, a caneta desistiu de andar, informou

-Não ando

e por conseguinte como se acaba o capítulo, entrou no corredor a caminho do quarto e a chuva mais forte, amanhã um tijolo a faltar na chaminé e os toiros sob as azinheiras num cacho infeliz, podia terminar neste parágrafo e não termino, prossigo, não morro, quanto mais me desejarem a morte eu mais vivo ...

-Que senhor é aquele que não faz sombra em parte alguma?"

                                                       António Lobo Antunes

Estou a ler ... e a gostar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Este é o tempo

Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam.



Sophia de Mello Breyner

domingo, 25 de outubro de 2009

Olhos de Água

    olhos dagua 024

olhos dagua 017

olhos dagua 029

olhos dagua 023

olhos dagua 040 Fotos de férias

Falésias. Tão inocentes e belas. Quem acredita que o perigo espreita?

(Existem também as falésias virtuais, mas essas são assustadoras)

sábado, 24 de outubro de 2009

Até Sempre Besugo!

... Desta vez assustou-me o facto de me terem fustigado enquanto médico e não como blogger que escreveu mais um texto. Bem sei que sou médico, mas o senhor entende o que quero dizer. E chegaram a ameaçar-me de participações à Ordem (que não temo, nada fiz para as temer, mas isso chocou-me muito).
Sabe? Senti pela primeira vez que esta blogosfera de agora não se dá ao trabalho de ler os outros (já que vai ler...) cuidadosamente, nem a tentar perceber o que está escarrapachado nos textos - e o senhor sabe, não a apreciando, a forma "esguichada" como por vezes escrevo, estando, contudo e quase sempre "lá tudo escarrapachado" - e que se tornou (se calhar já era e não dei fé) liminarmente punitiva.
Houve quem percebesse, senti isso. Mesmo alguns dos que me atiçaram, como médico, aos cães acabaram por perceber, depois. Mas lá está: foi preciso um texto que parece um relatório, tudo certinho e sem palavrões, para (acredito) entenderem o que estava ali.
Já passou. Não pretendi ofender ninguém, gritei contra uma casta de pessoas que não se confunde com o universo dos meus doentes, mas acabei a pedir desculpas. É no que dá, um besugo a escrever sem ser na sua sebenta molhada.
Não podia deixar de lhe dizer isto: agradeço-lhe, mas não foi vergonha que senti. Senti-me acossado. Quem não deve não teme? Eu sei o ditado. E nada devo, acredite. Mas aprendi a temer sem dever, voilà, tempos modernos.
A sua comentadora anterior está mais próxima da minha verdade: vai haver mesmo auto-censura. Ou então, porque nunca fui pide de ninguém e não vou ser agora pide de mim mesmo, vai haver
cessação. É o mais certo.
Desculpe ter-lhe tomado assim o tempo, já lhe agradeci ali em cima, isto vai longo. Continuação da boa prosa. Assunto encerrado, pela minha parte.
Cumprimentos
besugo

 

A blogsfera - ou pelo menos parte dela - não merecia os textos do Besugo. As reacções ao texto causador do adeus desvendaram claramente o que é iliteracia. Lêem mas não entendem. Lêem e não contextualizam. Julgam e condenam com uma imaturidade revoltante.

Provavelmente o Besugo nunca me irá ler aqui no meu cantinho, até agora só com uma visita incómoda e muito injusta. Isso não me vai impedir de lhe lançar um apelo:

A sua prosa - aquela sem medida  - merece o prelo. Publique! Pense nisso!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Burra de Balaão falou

A Bíblia conta que Balaão ía ao encontro do poderoso Balaque, negociar uma “profecia” de maldição sobre o povo de Israel.

21 Então, Balaão levantou-se pela manhã, e albardou a sua jumenta, e foi-se com os príncipes de Moabe.

22 E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o Anjo do SENHOR pôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus moços com ele.

23 Viu, pois, a jumenta o Anjo do SENHOR que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que desviou-se a jumenta do caminho e foi-se pelo campo; então, Balaão espancou a jumenta para fazê-la tornar ao caminho.

24 Mas o Anjo do SENHOR pôs-se numa vereda de vinhas, havendo uma parede desta banda e uma parede da outra.

25 Vendo, pois, a jumenta o Anjo do SENHOR, apertou-se contra a parede e apertou contra a parede o pé de Balaão; pelo que tornou a espancá-la.

26 Então, o Anjo do SENHOR passou mais adiante e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita nem para a esquerda.

27 E, vendo a jumenta o Anjo do SENHOR, deitou-se debaixo de Balaão; e a ira de Balaão acendeu-se, e espancou a jumenta com o bordão.

28 Então, o SENHOR abriu a boca da jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes?

29 E Balaão disse à jumenta: Porque zombaste de mim; tomara que tivera eu uma espada na mão, porque agora te mataria.

30 E a jumenta disse a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo que eu fui tua até hoje? Costumei eu alguma vez fazer assim contigo? E ele respondeu: Não.

31 Então, o SENHOR abriu os olhos a Balaão, e ele viu o Anjo do SENHOR, que estava no caminho, e a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se sobre a sua face.

32 Então, o Anjo do SENHOR lhe disse: Por que já três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu saí para ser teu adversário, porquanto o teu caminho é perverso diante de mim;

33 porém a jumenta me viu e já três vezes se desviou de diante de mim; se ela se não desviara de diante de mim, na verdade que eu agora te mataria e a ela deixaria com vida.

34 Então, Balaão disse ao Anjo do SENHOR: Pequei, que não soube que estavas neste caminho para te opores a mim; e, agora, se parece mal aos teus olhos, tornar-me-ei.

35 E disse o Anjo do SENHOR a Balaão: Vai-te com estes homens, mas somente a palavra que eu falar a ti, esta falarás. Assim, Balaão foi-se com os príncipes de Balaque.

Pois é, caro prémio Nobel, a burra de Balaão falou e o Caim matou Abel e nada disto são metáforas.                               

sábado, 17 de outubro de 2009

IFIGÉNIA NA TÁURIDA de Goethe

  "O trajecto é o das trevas para a luz"

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" ...Ifigénia torna-se na própria imagem do sujeito, num duplo do autor. É ela que gera toda a transformação. E é mulher. Daí, (desse acaso?) nasce a mais nobre descoberta, a da identificação do conhecimento, da inteligência, com o próprio princípio feminino por oposição ao princípio masculino, da entrega mais do que da posse, ou da força. É ela o ser pensante e o ser sensível. Há na peça, evidentemente, a defesa histórica da mulher como ser inteligente, mas mais do que a defesa dos seus direitos, há a descoberta de uma nova maneira de estar vivo, a maneira feminina, daquela que não tem espada, e porque não tem espada vai gerar mais vida. A defesa da fragilidade. E da fragilização. E da paz...."

Luis Miguel Cintra

 

A Cornucópia faz bem à nossa saúde mental e física. Das muitas batalhas que travamos pode nascer a paz. É preciso persistir com inteligência e coragem, valorizando o essencial que nos ilumina e depreciando a mesquinhez que nos cega.

Bravo!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Regresso de férias - 3 semanas e 635 emails

 

À minha espera 635 emails. Feita a limpeza sobram 462.

É demais. Dóiem-me as costas. Mais precisamente aquela espécie de bolinha do pescoço, lá atrás...

Tanta gente! tanta pressa! É tudo tão urgente. O que nos faz correr, Deus meu?