Era uma vez uma senhora Dra . Era conhecida no bairro pela nobreza do seu carácter e pela seriedade. Na casa ao lado vivia um homem, com ar arrapazado, oriundo de Vilar de Maçada que a inquietava. Temia-o. Tinha razões para isso. Um dia, numa noite de insónia, vira-o matar o pai e a mãe. Nunca soube o que ele fez aos corpos. Nem isso lhe interessava. Concluíu mais tarde que para além de maligno era cínico. Certo dia, à beira da piscina, ouvira-o lamentar-se da sua orfandade. Era uma encenação. Nem consigo próprio falava verdade. A sua repugnância por aquele ser aumentava em crescendo. À sua casa chegavam as vozes dos correlegionários que juntava com frequência. O magnetismo da tragédia da noite que lhe ficara gravada na memória atraía-a para a casa ao lado. Naquela noite, mais uma vez, o sono não chegava. Ouvia vozes, apelos deseperados, gritos subitamente interrompidos. Levantou-se. Espreitou pela janela. O jardim continuava iluminado como há horas atrás. E claramente viu a 13,5m de profundidade os corpos na piscina. Não os contou. Nunca saberá quantos morreram naquela noite.
Olhou o céu, viu a lua cheia e jurou ao vento:
- daqui a dez anos já não estarás cá! Não permitirei que sejas o coveiro da Pátria.
A senhora Dra. tem agora uma missão clara e inequívoca e desempenhá-la-à com determinação e eficácia.
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