sábado, 11 de junho de 2011

Ler o besugo e ficar de alma lavada

Aqui:

http://gravidadeintermedia.blogspot.com/2011/06/senhor-primeiro-ministro-cessante.html

“…

Em Portugal (dispenso-me de falar doutros países, há tipos com blogues noutros países e eles que escrevam sobre isto se quiserem), para os portugueses, o acto de linchar é uma espécie de refeição ao meio da manhã que se toma em grupo. Em cardume, em manada, em matilha. Não sei o substantivo colectivo que define uma resma de hienas, que seria o mais adequado para o que quero dizer, de maneira que vou inventar uma palavra para isso: putedo.

Ora o putedo, em se apanhando diante dum alvo erecto, rosna baixo a olhar os passarinhos que esvoaçam. Em o alvo se abaixando para qualquer coisa (ou por qualquer coisa), rosna alto e começa a mirar as próprias fezes. Em apanhando o alvo um bocadinho de cócoras, para apanhar qualquer coisa que lhe caiu, começa a rodeá-lo e a guinchar risadas funâmbulas, com as supracitadas fezes já na boca. Metade do putedo agride já o alvo, com as gengivas fétidas onde desabundam dentes e progride a piorreia. Se o alvo cai, matam-no com a rapidez lenta dos vagares vorazes. E não o comem logo por ser carne fresca.

O putedo é cobarde e, como convém aos cobardes, abundante.

O putedo é um grupo de acólitos de Lynch fora do tempo mas que marcha em passo concertado. O putedo lincha, embora queira deixar no ar a ideia de que apenas putifica (e putificar é uma palavra putificante, ou seja, bastante parecida com purificante - do ponto de vista do crescente putedo que se guindou a analista do léxico e das coisas todas).

Repugna-me muito o que tenho lido e escutado - de Mena Mónica e Barreto, de Pilatos e Caifás, de Caius Detritus (leia-se Mário Crespo) e Manuel das Iscas, de José Moura Guedes e Eleutério Caquinha - sobre José Sócrates. Não assistia a um linchamento tão concertado, tão prolongado, tão "encomendado", desde 1988, quando me mostraram na televisão e nas revistas a agonia dos dois polícias ingleses putificados às mãos dos católicos em carpideira ânsia de putificação de Belfast. Já não via o putedo a exercer a sua putificação de maneira tão despudorada e tenaz, portanto, há muitos anos.

De maneira que informo (marimbando-me perfeitamente para o putedo) que emprestaria o meu carro a José Sócrates, se ele mo pedisse. E mais não informo porque o acto de informar se tem vindo a transformar, duma maneira cada vez mais desassombrada, num acto de puta. E eu, puta, não sou. Embora saiba que se fosse seria bastante cara: é que mesmo assim tenho procura; de algum putedo.

…”

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